Wednesday, August 31, 2011

Instruções sobre como me atacar

Êxtase & Agonia - The Ecstasy And The Agony
Olá pessoal
Pode soar estranho, mas esta minha apresentação como o próprio Michelangelo Buonarroti não é motivada pelas características da arte que faço ou por lembranças de detalhes de trabalhos artísticos da outra vida (mas poderia ser). Mesmo que, hoje, eu fosse um fabricante de pranchas de surf (este, sim, era o meu verdadeiro sonho de juventude), eu estaria me apresentando e contando a minha história de vida exatamente da mesma forma. A minha autopercepção como o próprio Michelangelo teve início com a vivência, em 1983, do trauma emocional relacionado à morte de Vittoria Colonna (1490-1547) e suas consequências na atual vida. A minha autopercepção como o próprio Michelangelo não teve como ser destruída ao longo da vida por causa da forma como as coisas aconteceram comigo até hoje.
Preciso esclarecer os fundamentos a minha autopercepção como o próprio Michelangelo para "ajudar" as pessoas que pretendem um dia me atacar mostrando a cara (até agora, só covardes escondidos no anonimato tentaram isso). Inicialmente, devo avisar que me atacar com retóricas destituídas de exemplos e cheias de política do reconhecimento social não vai funcionar por dois motivos simples. Primeiro: a opinião de quem nunca enfrentou um fazer artístico ao menos próximo do meu nunca irá além do discurso leigo. Para que eu reconheça em você o conhecimento para debater comigo, você tem que, no mínimo, desenhar de memória um nu masculino em contrapposto com uma anatomia bem definida em três vistas distintas pelo menos. Caso você realize estes desenhos diante de meus olhos (eu nunca conheci ninguém capaz disso até hoje), acreditarei na sua capacidade de avaliar a minha representação da figura humana. Mas, se você for capaz disso, você vai acabar concluindo que, sim, eu só posso ser o próprio Michelangelo logo que conhecer a forma como crio as minhas imagens. Segundo: é óbvio que eu me retirei definitivamente do jogo social com esta apresentação como o próprio Michelangelo e é obvio, também, que esta atitude apenas evidencia a minha natural postura de vida. Eu sempre vivi fora do jogo de aparências da sociedade e nunca me preocupei com reconhecimento artístico. Ou seja, não adianta ficarem imaginando razões profissionais e vantagens pessoais nesta minha apresentação como o próprio Michelangelo porque estas não existem.
Os incomodados com esta minha apresentação como o próprio Michelangelo que pretendem me atacar em público algum dia devem seguir este roteiro:
1) Pesquisar a fundo as circunstâncias da morte de Vittoria Colonna. Pesquise as descrições históricas do dia da morte dela e veja se há contradições em relação à minha visita ao leito de morte de Vittoria. Se você conseguir provar que eu não estive neste aposento, eu serei forçado a repensar a experiência mística central da minha autopercepção como o próprio Michelangelo.
2) Desenvolver um estudo apurado das causas da morte de Vittoria Colonna. Procure descobrir se ela morreu de causas naturais ou se havia de fato alguma perseguição religiosa contra ela. Se você provar para mim que as minhas suspeitas de assassinato são infundadas, novamente terei de buscar outro sentido para todas as visões que me assombraram a vida desde criança até os anos 1980.
3) Pesquisar referências históricas para saber se havia alguma outra pessoa mantendo uma relação de amizade muito íntima com a Vittoria nos últimos dias de vida dela. Com mais esta informação, você será capaz de colocar em xeque todas as minhas certezas a respeito da minha própria identidade.
O seu maior problema para me atacar, porém, depois de desqualificar todos os fatos históricos que explicam a crise emocional que, em 1983, me jogou em uma tortuosa busca artística, vai ser conhecer a minha vida para rebater todas as minhas interpretações dos fatos. Por isso, entre as muitas investigações que você deverá realizar, você poderia começar com esta:
4) Um longo e exaustivo interrogatório da senhora minha mãe. Pressione-a com técnicas dos esquadrões anti-terror e tente descobrir as razões do comportamento dela diante do que eu vivia nos anos 1980. Particularmente, eu duvido que consiga obter qualquer confissão desta senhora. A absoluta certeza de que ela sabia da minha identidade espiritual desde que eu era pequeno e as circunstâncias deste fato, que explicam a revolta dela com as minhas escolhas de vida, seguirão intactas na minha mente até que alguém me apresente muitas evidências científicas em contrário obtidas de qualquer forma. Reconheço que a investigação da senhora minha mãe é o trabalho mais difícil e perigoso, contudo, o resultado será de extremo interesse meu. Pode contar com a minha ajuda, você, inimigo meu, em tudo o que vier a precisar para esta arriscadíssima empreitada.
Infelizmente, todo e qualquer ataque à minha história de vida vai esbarrar em razões íntimas geradas por acontecimentos que não têm como serem revertidos para desqualificar a minha autopercepção como o próprio Michelangelo Buonarroti. Eu digo "infelizmente" porque eu mesmo tentei me desqualificar por 20 anos e fracassei. Por outro lado, mesmo que alguém conseguisse reinterpretar todas as minhas vivências místicas e reinventar todos os ocorridos nos anos 1980, eu não teria como fugir da presente harmonia conquistada. Desde o primeiro momento desta minha apresentação como o próprio Michelangelo, eu percebi o esgotamento das minhas tentativas de me adequar à sociedade. Viver o presente sem ansiedades existenciais é um estado de alma que levei uma vida inteira para atingir. Foram duas décadas até entender que apenas autocompreensão não bastava. Era preciso saltar na incerteza da compreensão do outro, de você, meu caro inimigo.