Thursday, November 11, 2010

Confissões de um "tarado"

The Passion Of A Life
Olá pessoal
Como já falei antes, existem conclusões óbvias decorrentes de uma realidade íntima confessada. Desde que abri meus segredos para poder explicar o absurdo que foi a minha vida, aconteceram situações que estão se tornando uma história à parte da história espiritual que conto em meu livro. E, realmente, eu não poderia terminar esta existência sem testemunhar os tropeços e as derrapadas de quem encontrei pelo caminho desde que passei a me apresentar como o próprio Michelangelo. Por conta disso, me vejo obrigado a continuar me explicando.
Expor a intimidade proporciona uma chance única de se ver pelos olhos do outro. Por exemplo: é curioso notar como o meu comportamento "esquisito", segundo alguns, se encaixa perfeitamente no meu mundo dos dias de hoje. Chega a ser cômico perceber como a minha vida "estranha e solitária" compõe muito bem a imagem social de quem "diz ser o próprio Michelangelo". Entretanto, preciso ser honesto e esclarecer este ponto de uma vez por todas. Eu optei por uma vida solitária há mais de duas décadas para ter a liberdade de ir direto em cima da mulher que eu quiser. Nunca, em nenhum ambiente social que frequentei, encontrei garotas que, digamos, se encaixassem em meus sonhos sexuais. Pior, sempre alguém vinha com conversa para me convencer a namorar uma baranga, só porque era amiga da amiga da prima de sei lá quem. Beleza, e principalmente tesão, não se discute, e logo percebi que, se quisesse viver a minha sexualidade plenamente, eu teria que resolver sozinho as operações táticas para pegar aquelas que realmente me atraem, sem sofrer patrulha de grupos sociais. Se eu não tivesse tomado essa decisão tão cedo, hoje eu já teria cometido suicídio, pois é bem complicado descobrir quais são as mulheres que combinam atração física com um mínimo de curiosidade sexual além do trivial. Já desisti de muitas por conta de um lado sexual tão "higiênico" que, depois, nem conseguia lembrar da transa! Acredito que esta singela confissão explica porque sou tão "estranho e esquisito". Mas, acredite, eu não sou só um "tarado" e pretendo um dia tentar entender o que é o tal do amor, mas sem grupos sociais para me convencer a comer socialmente o que não gosto.
A minha sexualidade "esquisita" também tem batido de frente com o senso comum através da arte "clássica" que faço. Ao divulgar o meu trabalho artístico dos anos 1980 (cujo único intuito era verificar o quanto eu seria "Michelangelo de novo") através do meu filme em DVD e por toda internet, uma infinidade de esteriótipos tem gerado muita incompreensão. As opiniões mais grotescas são aquelas que supõe que eu seja um cara conservador, obcecado por arte antiga, que estudou e treinou por anos e anos a arte de Michelangelo para, um dia, tirar onda ao se apresentar como uma reencarnação do mestre italiano. Muitos até apostam que sou homossexual por conta da plasticidade de meus nus masculinos.
Bem, ainda mantenho amizades ao alcance de um click que podem dizer o que eu fazia quando o desenho da arte "clássica" surgiu, mas não vamos incomodar os outros: eu estava surfando e fabricando pranchas de surf, desde a adolescência. E caso eu fosse mesmo um conservador que estivesse treinando arte renascentista para me apresentar como o próprio Michelangelo, é de se supor que eu estivesse tentando aparecer como tal desde os anos 1990 (quando toda a minha arte "clássica" já estava feita) e jamais fosse frequentar grupos de arte contemporânea, como acabou acontecendo.
A minha ânsia por enterrar a minha identidade Michelangelo era tamanha que, no início dos anos 2000, parti para performances baseadas justamente nas minhas andanças pela noite carioca em busca da "supergata cuja sexualidade daria sentido à própria beleza". Esta ideia foi o ponto de partida da minha famosa Performance da Barbie, na coletiva Arttrainee II (Castelinho do Flamengo, 2001), onde uma espetacular modelo de passarela contratada (sósia da boneca Barbie) desfilava e distribuía uma revista erótica que produzi com fotos da boneca Barbie (a de plástico) sendo "molestada" pelas mãos de um monte de gente. Gastei uma grana com tudo isso e estava amando trabalhar a minha sexualidade na arte. Depois do sucesso dessa performance, já tinha outras propostas que seriam protagonizadas por mim mesmo em imagens com outras "Barbies". O problema é que a minha sexualidade não é condizente com este tipo de "atuação" pública. Eu não gostei da ideia de me expor a tal ponto e isto entrou em choque com a postura necessária a um artista performático.
Eu abandonei o grupo de artes plásticas para escrever um romance de ficção científico-política, chamado "Alexia - O Nascimento de Vênus", que nada mais é do que um mundo de eternas Barbies sempre a desfilar em meio a uma trama inteiramente inspirada nas minhas vivências místicas dos anos 1980. Afinal, eu queria muito dar um destino comercial normal aos anos perdidos tentando achar a prova da minha identidade Michelangelo na escultura Ícaro. Perdi tempo e muito dinheiro nessa minha fase de escritor, mas confesso que estava adorando tudo o que estava fazendo com as minhas fantasias e lembranças de aventuras sexuais.
Enfim, por razões que estão explicadas no livro "Ícaro, Contemplação e Sonho", voltei para minha condição natural de ser o próprio Michelangelo. Voltei para minha espontânea arte "clássica", produto do meu não-pensar e respirar. Cansei de "errar" tentando ser outra coisa para ficar de acordo com o senso comum e ter uma imagem social aceitável por terceiros. Quero ser eu mesmo, praticando o meu surf de alma e vivendo meus delírios sexuais da forma que quiser, enquanto o amor não vier de brinde numa dessas.
Talvez eu seja um "tarado" por não fingir tanto quanto as pessoas normais. Talvez eu seja um "tarado" por esperar além do normal pelo tal do amor. Talvez, por tudo isto, eu nunca tenha traído nenhuma daquelas com quem me envolvi. Talvez eu apenas não goste da vida social normal.

Tuesday, November 2, 2010

E agora, galera? Como é que vai ser?

The Resurrection - Study for a figure - The Rapture
Olá Pessoal
Voltando à reação das pessoas em 2008, quando comecei a divulgar a minha história de vida, um comentário em especial, apesar de já esperado, aponta qual será o ponto central da minha guerra espiritual, ou melhor, qual será o campo de batalha da chamada "guerra de MABUS".
Um falso amigo daquele ano levou os DVDs do meu filme doc "Ícaro, Contemplação e Sonho" para mostrar a quem ele reconhecia como "intelectual". O cara era um desses intelectualóides boçais de universidade que disse que não viu nada demais na arte apresentada no filme. Para ele, "os caras (artistas profissionais) fazem todos aqueles desenhos que eu faço no filme e, por isso, é absurdo eu me julgar ser o próprio Michelangelo baseado na minha arte de desenhar". Além do desdém imediato pelo meu desenho, que há décadas observo neste tipo de gente, a reação do sujeito é emblemática porque revela dois fundamentos básicos da estupidez: rejeição automática à minha história e uma completa ignorância sobre a estética da figura humana expressa pelo meu desenho.
Eu sei que ninguém considera a minha experiência da lembrança da morte da Vittoria Colonna, mas foi isso o que me revelou ser o próprio Michelangelo e há uma lógica emocional por trás desta situação que prova a sua realidade. Por outro lado, quando vivi essa experiência em 1983, o meu desenho era tosco, estranho (apesar de já refletir a minha arte da vida italiana) e tudo o que fiz nos anos seguintes foi deixar o desenho que fazia por intuição crescer para saber até que ponto a coisa de "ser Michelangelo" iria continuar se expressando. A verificação da identidade na arte foi feita na escultura e não no desenho. Além disso, no meu íntimo, não há nenhuma conexão entre a minha autopercepção como o próprio Michelangelo e qualquer expressão artística. Bastam estes esclarecimentos para avaliarmos o tamanho da truculência e ignorância do intelectualóide boçal.
Entretanto, no início dos anos 1990, quando comecei a analisar a qualidade e verificar a origem do que eu havia produzido em desenho, uma pergunta fundamental saltou aos meus olhos: seria possível o aprendizado e treino de tudo o que o movimento automático de minha mão expressa quando desenha? Vejam bem que, nesta pergunta, não estou questionando o fato de eu ser o próprio Michelangelo (isso está ligado à lembrança da Vittoria Colonna e envolve a minha vida desde criança), nem estou questionando o meu autorreconhecimento através arte, que foi atingido na escultura. Com esta pergunta, queria apenas elucidar o ponto onde os boçais de plantão encontram coragem de momento para me atacar.
Enfim, os anos foram passando e esta pergunta sempre se repetia na minha cabeça toda vez em que estava diante de uma situação que a evocava nos ambientes de arte que frequentei. Como não tinha planos de me apresentar como o próprio Michelangelo (o que explicaria o meu conhecimento artístico) jamais respondia às ignorâncias que me atravessam os ouvidos. No final da década de 1990, a internet estava bem mais desenvolvida e a minha busca por um artista vivo que desenhasse por intuição a figura humana com as mesmas informações estéticas que eu ganharam dimensão planetária. Antes, eu vivia em bancas de jornais e bibliotecas buscando a singularidade do meu traço em trabalhos de arte que, por ventura, fossem publicados.
Mesmo quando, na década de 2000, comecei a ganhar dinheiro em carnaval e tentava me modificar artisticamente para esquecer a minha identidade como Michelangelo, nunca deixei de prestar atenção nos desenhos de figura humana que passavam diante mim. Sempre olhava com atenção e avaliava o nível de conhecimento anatômico e o tipo de representação de espaço criado pelo traço: a análise destas duas características de um desenho são suficientes para entender como a figura humana foi elaborada. E eu não encontrava nada, absolutamente nada, que sequer chegasse próximo da reconstrução metafórica expressa em meus nus, que mistura estatuária greco-romana e domínio completo de anatomia, nem das composições repletas de narrativas clássicas e teológicas típicas da minha vida italiana.
Bem, infelizmente, não pude seguir com os meus planos de enterrar a minha identidade Michelangelo. Queria voltar a ser o surfista que sempre fui mas, em 2008, o meu mundo já estava virado do avesso. A defesa contra a fúria do Além foi explicar porque sou Michelangelo para todos. Todavia, nesta mudança de postura na vida, a única razão que me fazia ficar calado diante das ignorâncias dos intelectualóides boçais desapareceu! O jogo de aparências que me mantinha sob o controle do senso comum e permitia que idiotas soltassem bravatas ao gosto da moda sem serem incomodados acabou! Pior: o ato de declarar ser o próprio Michelangelo me colocou numa situação sem retorno e sempre à espera pelo ataque furioso dos intelectualóides boçais da realidade oficial. Mas não me sinto acuado, pelo contrário, agora estou MUITO à vontade! Turbinado pela destruição da minha juventude, o meu único prazer até o final da vida vai ser a destruição espiritual do mundo dos intelectualóides boçais!
E agora, galera? Como é que vai ser? Como é que vai ser com eu, solto por aí, batendo no peito ao proclamar a identidade Michelangelo aos brados para toda a Humanidade? Alguém tem dúvidas sobre o que vai acontecer com os intelectualóides boçais que aparecerem no meu horizonte?
E agora, galera?? Como é que vai ser??? Alguém vai se habilitar a discutir comigo a questão fundamental sobre o meu desenho? Alguém acredita que seria possível o aprendizado e treino de tudo o que o movimento automático de minha mão expressa quando eu desenho?
Alô, você, intelectualóide boçal! Considere-se satisfeito por discutir desenho comigo, porque escultura não está ao seu alcance!
Muita gente me pergunta por segredos que eu possa estar guardando além da minha óbvia arte. Ora… vão tomar no cu! Agora, galera, quem tiver disposição, ou me enfrenta com exemplos e fazer artístico ou fica calado e engole a própria ignorância, como muitos já estão fazendo (veja o blog http://michelangeloisback.blogspot.com/). Quem quiser pagar para ver (e estou disposto a apostas bem altas), saiba que estou aqui, e por toda internet, ESPERANDO!!!

Monday, October 25, 2010

Aos robôs do senso comum globalizado

Icarus - Geometric Structure
Todas as vezes em que sou convidado a explicar a minha trajetória de vida, num determinado ponto, sempre escuto as mesmas perguntas sobre se eu fazia uso de drogas alucinógenas. Parece impossível ao senso comum da sociedade atual que experiências como as que vivi possam acontecer sem nenhum tipo de alteração química no cérebro. Porém, o que vejo por trás desse tipo de pergunta é um espantoso conservadorismo, cuja vivência não inclui um mínimo de misticismo não classificado por religiões nem racionalizações psicológicas. Mais do que isso: vejo uma uniformização do julgamento via a permanente conexão global das pessoas. A minha estranheza é pela completa ausência de certos tipos de situações e atitudes de 30 anos atrás.
Enquanto escrevia o livro (calma, falta pouco para começar a venda no site), muita reflexão sobre a época em que a história começa, final da década de 1970 e início da década de 1980, me fez saltar aos olhos a imensa diferença entre o mundo daqueles dias e o atual. A minha primeira impressão é que a comunicação entre as pessoas era mais espiritual porque era mais lenta, difícil e cara. A presença das pessoas sempre ocasionava algum impacto na idealização que fazíamos delas. Ou seja, a realidade parecia, no mínimo, mais cheia de surpresas. Devido ao isolamento dos grupos sociais e à desinformação natural de um mundo desconectado, a vida rotineira era mais carregada de mistérios e as transgressões faziam algum jus ao significado da própria palavra.
Lembro-me de chegar na oficina onde as minhas pranchas eram finalizadas em resina poliéster e fibra de vidro e de ficar sabendo da "viagem" movida a LSD e Heroína que amigos faziam por dias. A minha única razão para não participar daquilo era a necessidade de condicionamento físico para a prática do surfe. Ninguém sabia se aquilo fazia bem ou mal. Usar drogas era um verdadeiro salto no escuro. Havia muito discurso sobre a importância de se viver todo tipo de experiência, mas a minha conclusão sobre as pessoas que faziam uso era que estavam loucas para ter alguma sensibilidade, já que tinham tão pouca. Eu vivia acelerado pela adrenalina da prática esportiva e nunca vi nada de interessante ser produzido pelo estado alterado dos amigos da época. Hoje, entendo o vazio existencial de quem fazia uso. Havia alguma inocência, busca e fuga naquela ânsia por sensações diferentes.
Para mim, o veredicto sobre drogas era sempre o desempenho do cara surfando e isso foi determinante para nunca gostar de cigarro ou maconha. Lembro-me de chegar em Itaúna, Saquarema, 1977, num carro forrado de maconha, cuja distribuição garantia o respeito dos locais na hora de frequentar a praia. Só quando me dei conta dessa situação, eu entendi o excesso de simpatia de quem sequer conhecia. Mais do que proteger meus pulmões e a minha capacidade de remada para entrar nas ondas, esse episódio aos 16 anos me mostrou os meus limites sociais. Eu não era um "maconheiro" como os meus amigos e nunca houve respeito deles por essa minha postura. A minha doidera era outra e não me faltava personalidade para ser eu mesmo. Enquanto fumavam, eu ficava no carro, com o som de uma obscura banda australiana chamada AC-DC nas alturas. A consciência de que eu era muito diferente e muito mais transgressor, ou "maluco", do que todos os meus amigos juntos vinha exatamente desses momentos. O tempo mostrou que eu estava absolutamente correto nesta minha auto-avaliação, mas nunca pensei que aqueles amigos fossem se tornar pessoas tão conservadoras. Aquela "doidera", hoje, é apenas costume social. Só isso.
Aliás, nunca entendi por que "seguir a turma" tornaria alguém mais "atirado" em experiências supostamente transgressoras. Sempre desconfio de quem faz uso excessivo da aparência para se colocar para um grupo social. Se naquela época tatuagem e piercing tinham alguma razão poética, hoje, esse tipo de ostentação já foi incorporada e globalizada pela sociedade urbana, se estabelecendo como o mais trivial sinal de continência ao senso comum. Quando vou ao supermercado e vejo aquelas "senhoras-gatinhas" com tatuagens "iradas", é impossível não pensar nos códigos de imagem da sociedade da informação atual. A ânsia por euforia, sensibilidade e personalidade traduzida por alguma equívocada moda de massa dita o senso comum. Não há conteúdo, apenas rituais de socialização. E novamente percebo que o verdadeiro transgressor do senso comum, sob qualquer aspecto (desde experiências alucinógenas e até sexo), sou eu mesmo. Todo mundo que se julgava (e também aqueles que, hoje, se julgam) "super-transgressores da moral e dos bons costumes" está, neste exato momento, me classificando de louco. A loucura deles, ontem e hoje, não passa de uma ostentação vazia, cujo sentido se esgota na imagem social. A minha loucura é movida por uma verdadeira transcendência do real e se expressa todos os dias sem química alguma.
Todas as sociedades condenam as posturas que não respeitam o senso comum. Poucas pessoas sabem o que dizer diante de algo que a sociedade da informação não explicou para elas e, por isso, não há percepção sobre possibilidades que estão além do mundo atual. Já escutei de neo-hippies conselhos sobre o que não revelar dos sonhos que fazem parte da minha história, em frases do tipo:
– Pô, Poggi, não conta isso aí não porque todo mundo vai pensar que você é louco… – e o cara se julga o super experimentado de doideras diversas.
Já soube de uma pessoa "super-descolada-zona-sul" que queria me apresentar como "maluco a ser observado", lá no contexto do trabalho dela. Depois de equivocadamente tentar me enquadrar (para me diminuir, lógico) na visão de mundo do grupo dela, ela desistiu.
Fica aqui a minha admiração por quem não se curva ao senso comum. Eu sei que esse tipo de pessoa ainda existe, mas prefiro não apontá-las, pois me recuso a construir qualquer nova noção de senso comum. A jornada da vida é solitária e só é verdadeira para quem se conhece pelo próprio íntimo, pelo próprio coração, E NÃO VIVE EM FUNÇÃO DA OPINIÃO DE GRUPOS SOCIAIS.
Simplesmente "ser" é muito mais difícil e sutil do que aquilo que o senso comum atual classifica como original.

Saturday, October 2, 2010

Se autopromovendo a "maluco".

Sacred Family - Sagrada Família
Olá pessoal
Estou a poucos dias de finalmente ver meu livro à venda. Nessa primeira edição, nem me passa pela cabeça qualquer margem de lucro, apenas o alívio de ter um registro escrito daquilo que eu vivi. Quem se interessou pelo meu filme documentário "Ícaro, Contemplação & Sonho" rapidamente vai perceber que aquela minha fala não descreve nem 0,001% do mundo espiritual que me envolveu. Ao contrário do clima do filme – que não passou de uma simples conversa de bar – o leitor vai verificar que todas as experiências sobrenaturais narradas foram completamente compreendidas há quase duas décadas. Apesar de continuar me preservando e, por isso, censurando muita informação, dessa vez – e isso eu garanto – não haverá mais espaço para qualquer especulação em torno da identidade da minha pessoa.
Contudo, muitas dúvidas referentes à natureza do que eu vivi não passam de pura ingenuidade e falta de sensibilidade. Poucas pessoas percebem o óbvio por trás da minha repentina atitude – em 2008 – de abrir um passado repleto de estranhezas. Existe uma pergunta simples que muitos não fazem e preferem partir para o ataque imediato contra mim – principalmente os espíritas. Como ninguém tem coragem de me fazer essa pergunta, eu mesmo a farei:
Por que eu abriria uma tortuosa e absurda trajetória de vida, onde só existem fracassos profissionais, afetivos, uma juventude destruída e, depois disso, ainda me apresentar como o próprio Michelangelo, me autoproclamando um famoso personagem da História?
O que será que eu estou ganhando com isso?
Todo mundo conhece aquela imagem clichê de maluco que se proclama Napoleão Bonaparte e esse foi o primeiro comentário que escutei por terceiros. Infelizmente, até agora ninguém escreveu nada a respeito da minha sanidade mental em um espaço público, que eu pudesse imprimir para poder entrar com uma ação na justiça por danos morais. Então, fica claro que este tipo de ataque é uma reação de ignorantes. Apenas isso.
É óbvio que estou aqui, neste blog, para vender o meu livro. Mas será que uma publicação por demanda, cujo preço é caro e a divulgação, nenhuma, pode valer tanto empenho e exposição pessoal? Claro que não! Então, está na cara que a razão não pode ser esta.
Poderia ser a venda de quadros e esculturas? Infelizmente, nunca consegui ter uma produção e clientes para esta minha arte porque precisei me modificar e esconder a minha identidade renascentista para me adequar ao mundo e sobreviver. Eu estou tentando retomar o meu trabalho artístico original e conquistar algum mercado, mas não vejo como a minha história possa me ajudar nisso. Pelo contrário, ela vai atrapalhar. E muito.
Mas essas especulações sobre um suposto lucro imediato não fazem o menor sentido quando se verifica em que época aconteceram as principais experiências sobrenaturais: a década de 1980. No livro, inclusive, o leitor vai notar que, desde 1988, eu tentava algum tipo de solução de vida dita normal. No início dos anos 1990, quando me preparava para me apresentar como "artista plástico" – algo que nunca quis – pessoas próximas sempre me alertavam para eu esconder o lado místico da minha experiência em arte porque, caso contrário, eu jamais seria aceito em nenhum ambiente. Agora, 2010, essas mesmas pessoas, ao verem o empenho com que eu divulgo o meu lado místico, imediatamente concordam que "o Eurico está fazendo a coisa certa". A merda nessa história é que quem se fodeu fui eu. Mas vou esperar a hora certa de mandar certas pessoas tomarem no cu.
Todavia, nesta mudança de ponto de vista, fica claro que o que seria uma maluquice no início da década de 1990, para quem assistiu de camarote ao que eu passei, em 2010, não é mais maluquice nenhuma. Agora, trata-se tão somente de sensatez mundana. Afinal, o que fazer com mais de 5 mil imagens, entre desenhos e fotos, e uma história pessoal de tirar o fôlego? Jogar tudo no lixo? Deixar as traças destruírem tudo aos poucos? E o que dizer do meu fazer artístico que continua intacto? Então? Que atitude você teria no meu lugar?
Porém, não acho necessário que a pessoa me conheça há anos para entender o óbvio por trás da minha atitude e, por conta disso, entender a verdade que carrego comigo. Pelo fato de ser professor de faculdade e profissional de escultura de isopor em barracão de escola de samba, eu tenho contato com pessoas de todas as camadas sociais. Em 2008, quando distribuia os DVDs com o filme "Ícaro, Contemplação & Sonho", fui obrigado a escutar todo tipo de comentário. Jamais vou esquecer a expressão de espanto de um sujeito semi-analfabeto que mal me conhecia. Após ver o filme, ele me disse:
– Poggi, não há a menor condição de você ter inventado essa história!
Enquanto isso, na faculdade, um professor titulado (espírita) me chamava de maluco para os alunos dele. E, como esse idiota, existem muitos robôs culturais cujo pensamento boçal revela uma estreiteza inacreditável.
A maior expressão de ingenuidade, contudo, veio de alguns crentes espíritas. Segundo eles, eu tenho que estar preparado para "não ser Michelangelo". E fica a questão: se eu quisesse "ser Michelangelo" por que eu esperaria 20 anos para me apresentar dessa forma? Mas essa explicação não os convencem. São um bando de retardados de olhos esbugalhados de desejo de serem uma "celebridade do passado", sem sequer imaginar como é isso na realidade da vida. Pois fiquem sabendo que, por mim, teria destruído todo o meu acervo e morrido calado. Estou aqui me abrindo porque sou parte de um trabalho espiritual que suas mediunidades não alcançam. Minha onda é outra. Para vocês, fica uma sugestão: peguem o "Michelangelo" do sonho espírita de vocês e enfiem nos seus rabos mediúnicos.
Prefiro mil vezes continuar me autopromovendo a "maluco" do que concordar com a mediocridade de quem vive em busca do conforto de algum tipo de senso comum. Quero ser perseguido ou ignorado pelos grupos diversos e poder desfrutar do privilégio de esfregar na cara de gente babaca a singularidade daquilo que vivi.

Thursday, September 16, 2010

Vittoria Colonna, a Mônica real e as "Mônicas" dos sonhos

Vittoria Colonna
Olá, pessoal!
Depois de assistir ao meu documentário Ícaro, Contemplação & Sonho, a grande incógnita para as pessoas é o sentido da Mônica, tanto na realidade quanto nos sonhos. É evidente que não havia como me estender em explicações sobre ela no filme, mas no livro eu explico exatamente qual era o significado dela na vida real e nos sonhos. O que aconteceu em 1982-83, nos pilotis da PUC, foi que eu projetei nela a lembrança da Vittoria Colonna. A partir daí, ela já havia personificado a Vittoria no meu inconsciente e os sonhos só precisaram de uma brecha na minha mente consciente para começarem aquela impressionante sequência de imagens simbólicas, algo alucinógenas, de 1983. Essa brecha na minha consciência surgiu quando eu falei para a Mônica real (uma estranha) a tal frase em que eu admitia tê-la conhecido há quatrocentos anos. Isso mostra que existe um verdadeiro abismo entre a fantasia e uma realidade íntima confessada. Se a minha sensação com a Mônica real – ligada á lembrança da Vittoria Colonna por alguma semelhança – fosse uma fantasia, nada demais teria acontecido comigo. Porém, naquele episódio nos pilotis em 1983 teve início um verdadeiro doping espiritual e emocional que congelou a minha vida até 2008, cujo sentido ainda quero entender totalmente. O resultado visível é que não encontrei caminhos onde eu pudesse esconder a minha história para sempre.
Mas na década de 1980, quando o "acaso", em sincronicidade com o que eu vivia no íntimo, colocava a Mônica real diante de mim, eu estava sendo compelido a falar da emoção pela Vittoria Colonna e, assim, confessar a minha identidade como Michelangelo Buonarroti. Nos sonhos, a imagem da Mônica personificou, sim, a Vittoria de diversas formas, principalmente como Anima (ver C.G.Jung para compreender o conceito). O inesperado, contudo, foi o fato da imagem dela nos sonhos ter descrito mulheres de futuras relações amorosas, revelando um desconcertante caráter premonitório. A partir daí, me parece muito claro que a Mônica real nunca poderia ser a reencarnação da Vittoria, mas a ideia de que o significado dos sonhos com ela pode vir a me revelar quem é a verdadeira reencarnação da Vittoria é muito plausível. Porém, eu confesso que sempre fui relutante em tomar isso como realidade. Sempre preferi deixar o meu futuro em aberto.
O problema é que as experiências sobrenaturais que dominaram o meu dia a dia no ateliê do Méier nos dois primeiros anos (1985-1987) são muito mais radicais do que descrevo no livro, justamente para não fechar a minha realidade afetiva atual. Resumidamente, experiências no plano astral me deram a certeza de que a Vittoria Colonna ainda nem havia nascido. Eu teria, inclusive, participado da preparação dela para a sua reencarnação. Mas a intensidade do abraço que ela me deu, na sua primeira visita ao meu ateliê, foi inesquecível e me deixou com a impressão de que estaria prestes a reencarnar. Eu não vou jamais abrir tudo o que vivi só para poder me explicar, mas a ideia de que a Vittoria Colonna seria uma pessoa nascida em 1986 ou pouco depois disso é muito forte na minha cabeça, mas eu não tomo isso como uma realidade transcendente confirmada.
A pressão que sofri da outra dimensão, em 2007 e 2008, para que eu contasse a minha história e me apresentasse como Michelangelo Buonarroti rapidamente, sugere que todo o meu trabalho na produção do filme "Ícaro, Contemplação e Sonho" teria ela como a única destinatária. Se tudo o que vivi nos anos 1980 fizer sentido, ela deverá ter nascido no final daquela década e, hoje, já é adulta. Eu confesso que me pergunto muito se isso pode um dia vir a ser real, ou se seria melhor eu não esperar nada relacionado com ela e o meu passado, deixando a ideia de reencontrar a Vittoria restrita a um sentimento de transcendência. Mas o mistério é irresistível: será mesmo que a Vittoria pode já ter visto e até se emocionado com o que conto no filme Ícaro, Contemplação & Sonho? Será? Mas quem será ela? :-) Que mistério…

Wednesday, September 1, 2010

EU SOU MÃOS!!!


Apollo, originally uploaded by MichelAngelo▲.

Olá pessoal
Voltando a Nostradamus, além de MABUS, a outra palavra em suas Quadras que identifiquei como sendo referência à minha pessoa é MÃOS.
Nos anos 1980, quando escutava ou lia interpretações das profecias dele, onde alguns místicos afirmavam que MÃOS era um nome código do Anticristo, eu gelava por dentro. Não por me imaginar o Anticristo – conceito que nem considero válido – mas por enxergar a exata revelação do caráter simbólico da minha vida. Algo que apenas começava a compreender naquela época.
Mas sempre que me lembrava das interpretações conhecidas de Nostradamus e me identificava como o MÃOS, a minha definição como um suposto Anticristo não fazia sentido – afinal, como alguém como eu, que se expressa quase que exclusivamente através do discurso teológico cristão, poderia ser um "Anti" Cristo. Além disso, eu não tenho nenhum poder político, algo que o Anticristo imaginado pelos místicos deveria ter. Porém, pensando neste assunto mais detidamente hoje, talvez, sim, no fim de tudo, um obscuro e perturbador sentido poderá surgir por detrás das famosas Quadras do famoso vidente.
A palavra "vingança" está associada à mim nas Quadras de Nostradamus onde imagino que ele está me citando. E, de fato, uma vez que abri a minha história e estou aqui na internet chutando (espiritualmente) a cara de um monte de gente babaca, há uma "vingança" em curso. Trata-se de uma "vingança" contra uma situação de vida que me recuso a enfrentar hoje da mesma forma como quando tinha 20 anos. Agora, ao final dos meus 40, podem ter certeza de que sempre terei um murro (espiritual) preparado para enfiar na cara de otários que resolvam me atacar. Pelo menos, quando a situação me interessar. Contudo, a minha verdadeira vingança ocorrerá de qualquer forma, quer o meu verdadeiro inimigo se levante contra mim ou não. A minha verdadeira vingança é inevitável porque ocorrerá devido à natureza daquilo que sou.
Por enquanto, todos os otários que me atacam se definem como espíritas. Mas estes são como cachorro morto. Nem vale a pena chutá-los. Eles são inofensivos e só servem mesmo para fazer piada. O meu verdadeiro inimigo ainda não expressou incômodo com a minha presença. Pelo menos, nada ainda chegou aos meus ouvidos. No microcosmo atual, em que a minha história é conhecida, o meu verdadeiro inimigo deve estar me vendo como uma mera curiosidade. Diante das leis que garantem liberdade de expressão, consciência e crença, eu tenho a impressão de que eles preferem me ignorar. Afinal, quem mal sobrevive e não tem condições sequer de desenvolver a própria arte, como poderia vir a ser uma ameaça espiritual?
Mas será que falta algo em mim que impeça a percepção óbvia da minha presença aqui e agora? Será que a falta de dinheiro pode me impedir de ser o que já sou? Claro que não. Por isso mesmo, eu não me engano com o meu verdadeiro inimigo. Suas hordas são compostas de animais políticos desesperados pelo poder e que matam para mantê-lo. É neste ponto que me percebo nitidamente como o MÃOS profetizado pelo Nostradamus. A minha identidade artística, qualidade inata das minhas MÃOS, já está fartamente documentada. E quando os incautos cultos e influentes a entenderem dentro da "barriga" do "Cavalo-de-Tróia" que existe na capela do meu inimigo mortal, a sua destruição pelo interior da sua "cidade" será inexorável. E a minha vingança, ou de MABUS, ou de MÃOS, será amplamente revelada. Cheers! :)

Saturday, July 31, 2010

A Guerra de MABUS

MABUS
Olá, pessoal.
Quem acompanha os meus blogues de respostas a ataques pessoais (com postagens em inglês seguida da tradução) já está à par da chamada "Guerra de MABUS". Mas por que "Guerra de MABUS"?
Bem, desde 2008, quando resolvi abrir a minha história e me apresentar verdadeiramente, eu tenho me esforçado por colocar no espaço público todos os aspectos místicos e transcendentes daquilo que vivi na década de 1980. Entre as coisas mais estranhas, está a interpretação de profecias ancestrais que supostamente previram um momento de grande impacto na religião católica. Entre essas profecias, as Quadras de Nostradamus, cujos elementos simbólicos referentes à minha pessoa me aterrorizaram por duas décadas, são as mais populares.

A Quadra mais impressionante, sem dúvida, é número 62, da Centúria II:
Mabus vai morrer em breve e virá
A terrível destruição de pessoas e animais,
De repente, a vingança será revelada,
Centenas, as mãos, a sede e a fome, quando o cometa passará.

Nostradamus escreveu isso provavelmente em 1555. Como eu morri em 1564, imediatamente concluí que MABUS só poderia ser eu mesmo: Michael Angelus BonarotUS
Contudo, o impacto dessa Quadra misturado à visão da minha própria morte naquele dia em 1983, quando abordei a Mônica e lhe disse o nome "Vittoria Colonna"(Veja essa passagem no meu documentário - Parte 2- 1983 - Versão Resumida - Ícaro, Contemplação & Sonho), sempre me trazia a ideia de que quando me revelasse à sociedade eu me tornaria "MABUS", e logo seria morto. Esse era o meu medo em 2008 quando produzi os DVDs contando a minha história e me apresentei na internet como o próprio Michelangelo.
Neste ano de 2010, Nostradamus voltou a ocupar a mídia e fiquei boquiaberto com as interpretações que fazem desta Quadra 62. Uma das interpretações sugere que MABUS iniciaria uma guerra (evidentemente, no Oriente Médio, contra Israel e etc). Mas eu mesmo já havia decidido a atrair todo tipo de ataque contra mim com o intuito de divulgação e explicação da minha história. Tarefa esta que, de fato, está sendo uma guerra, mas espiritual.
Referências à minha pessoa em profecias de Nostradamus são inúmeras, mas só queria esclarecer que não estou afirmando que sou o tal MABUS. Eu simplesmente estou usando o conceito de sincronicidade para pegar carona em fluxos de informação na Web que sejam compatíveis com os meus interesses. Ou seja, estou usando a palavra MABUS para direcionar as máquinas virtuais de buscas para o meu conteúdo, cujo público alvo certamente será o mesmo.

Friday, July 16, 2010

Um poema do livro

Doom - Destino
Trecho do livro:
Essas imagens foram tão poderosas em 1986 que imediatamente criei uma poesia para nunca mais esquecer esse sonho. A poesia se chama “Lembrança do Amanhã” e foi escrita em junho de 1986:
Vocês sabem quem sou eu?
Alguém que numa época viveu / Pela arte estarreceu / Todo aquele que afortunadamente / A ela conheceu
Vocês sabem quem sou eu?
Alguém que a brisa do Arno envolveu / Por gélidas manhãs do frio europeu / No pesado casaco / Nostalgicamente / Se aqueceu
Vocês sabem mesmo quem sou eu?
Alguém que por cinzéis e pincéis escreveu / O plástico poema que muitas almas embebeu / Mas pouquíssimas / Infelizmente / De fato entendeu…
Mas, sério, vocês sabem quem sou eu?
Aquele louco / Que, sozinho, com lúcidas imagens teceu / O inconquistável canto que a inteira capela envolveu / Repleto de exato significado que / Laboriosamente / Na sombra permaneceu
Um dia, espero, vocês saberão quem sou eu!
E lembrarão que por aqui novamente nasceu / Aquele estranho menino que tudo esquecia / Que apenas por sua tempestuosa arte vivia / Sobre a lâmina da alucinada tensão / Que a completa solidão afia
Um dia, mas um dia mesmo, vocês saberão quem sou eu!
E recordarão aquela perturbada criatura / Que ainda assim sorria / Mas um calafrio nervoso a todos sempre trazia / Quando uma linha no branco papel descobria / Sinuosos corpos de melódica anatomia / Que o mundo negava e a mente esquecia / E aquilo de que todos duvidavam e ninguém acreditaria / Debaixo de seus olhos acontecia!
Aquela sombria presença que por Roma e Florença vivia
Ali mesmo! Naquele prédio! Perto do velho viaduto! É lá que residia!

Monday, May 17, 2010

Contracapa do livro

Apresentação do livro na contracapa


The Icarus Challenge 4 by ~MichelAngeloNOW on deviantART
Aos 12 anos, eu já estava completamente apaixonado pelo mundo do surfe. Aos 15 anos, eu já fazia as minhas próprias pranchas. Aos 18, quando só conhecia as praias pelas ondas e vivia obcecado pela evolução do design de pranchas de surfe, o meu primeiro sucesso técnico como shaper se transformou numa experiência mística. Uma prancha com qualidades assombrosas para a época foi roubada e um contato com outra dimensão começou a revelar a verdadeira natureza da minha vida. Aos 20 anos, de súbito, desenhos com características renascentistas surgiram em meio aos rabiscos infantis que sempre fazia. Todos identificavam a arte de Michelangelo Buonarroti (1475-1564) nas estranhas imagens que criava movido por uma inexplicável saudade. Experiências psíquicas revelavam que havia algo a ser compreendido no que estava acontecendo, mas eu seguia com a vida de surfista e shaper de pranchas porque esse era o meu mundo conhecido. Aos 22 anos, em fevereiro de 1983, recordei uma situação emocional muito dolorosa: eu revivi a morte de Vittoria Colonna (1490-1547) diante de mim. A realidade da descoberta íntima foi confirmada por registros históricos, e, aterrorizado, me reconheci como o próprio Michelangelo. Logo em seguida, um sonho anotado em um papel me foi entregue. Por trás da narrativa simbólica desse sonho, havia o convite de outra dimensão para que eu assumisse a minha identidade renascentista diante de todos acreditando apenas na emoção pela morte da Vittoria Colonna. Nesse momento, a mensagem da outra dimensão para mim estava completa: Ícaro, Contemplação e Sonho. Apesar de reconhecer a realidade transcendente que estava vivendo, eu queria continuar a ser Carlos Eurico Poggi. A única saída foi pesquisar a tridimensionalidade da minha representação escultórica de nu masculino para achar a comprovação geométrica da minha identidade artística. O que eu não aceitava era que a solução do meu dilema existencial estava em contar para todo mundo o absurdo que eu estava vivendo desde 1983. A busca pela prova racional da minha identidade renascentista custaria a destruição da minha própria vida. Eu deveria ter acreditado apenas na emoção pela Vittoria! Eu deveria ter acreditado apenas na mensagem: Ícaro, Contemplação e Sonho!

Thursday, March 4, 2010

Prefácio do livro


Rio de Janeiro. 2008. Usina. Qualquer vento neste apartamento produz um uivo que lembra um longo e contínuo choro. Dependendo da força e da direção, o som é muito alto — impossível dormir — e tenho a impressão de que serei sugado e levado por alguma fresta. Em dias claros, dá para delinear o horizonte recortado pelas montanhas da Serra dos Órgãos. Sempre que o efeito sonoro do vento se faz notar — e é impossível ignorá-lo —, a origem da minha personalidade artística renascentista me ocupa a mente. E a tristeza que descobri no íntimo, no quase esquecido 25 de fevereiro de 1979, faz tudo perder o sentido. Sei que nesse vento está o choro pelo meu silêncio. Sei que esse vento, sincronizando sonho e vida, expressa constante lamento. Qual a saída? Fazer o quê? Não dá mais para fugir de mim mesmo. Foram muitas as razões que me levaram à decisão de abrir a essência da minha história. Difícil, porém, era saber qual a postura depois disso, mas a consciência necessária para assumir a minha identidade já estava pronta. Por trás da fachada da mente física, sou uma pessoa que já fui no passado. Costumava assinar Michelangelo Buonarroti e vivi na Itália de 1475 a 1564. Minha arte era e ainda é famosa, mas não foi através dela que me reconheci. Foi a lembrança de uma situação emocional traumática da minha vida na Itália. Não sinto orgulho algum de ser o que sou, porque ser o que sou implica isolamento profundo, estranheza extrema e comprometimento explícito com outra dimensão. Não há dúvida existencial, apenas entrega transcendente da própria vida. Por isso, não tenho direito a qualquer questionamento, e só por isso agora eu falo. O sentimento por uma pessoa da minha vida italiana compõe o núcleo do meu autorreconhecimento. A sensibilidade e a prática artística, com sua série infinita de decisões criativas puramente intuitivas, fazem da minha vida atual uma repetição diária de experiências que me lembram sempre de quem eu sou — situação da qual fiz de tudo para escapar. Passei os últimos 25 anos fugindo de ser o que sou e jurando morrer calado, mas em 2007 percebi que mergulhava numa lenta e dolorosa autodestruição. Então, resolvi dizer SIM em resposta a um convite que sempre existiu para mim vindo da outra dimensão. Como quem canta para não haver mais dissonância e tentar a paz consigo mesmo, aqui vai: Ícaro, Contemplação & Sonho, o primeiro relato detalhado do que aconteceu comigo de 1979 até 2008. Termino a minha vida dizendo a todos: — SIM, eu sou Michelangelo Buonarroti! E, SIM, eis a minha história!