Thursday, November 11, 2010

Confissões de um "tarado"

The Passion Of A Life
Olá pessoal
Como já falei antes, existem conclusões óbvias decorrentes de uma realidade íntima confessada. Desde que abri meus segredos para poder explicar o absurdo que foi a minha vida, aconteceram situações que estão se tornando uma história à parte da história espiritual que conto em meu livro. E, realmente, eu não poderia terminar esta existência sem testemunhar os tropeços e as derrapadas de quem encontrei pelo caminho desde que passei a me apresentar como o próprio Michelangelo. Por conta disso, me vejo obrigado a continuar me explicando.
Expor a intimidade proporciona uma chance única de se ver pelos olhos do outro. Por exemplo: é curioso notar como o meu comportamento "esquisito", segundo alguns, se encaixa perfeitamente no meu mundo dos dias de hoje. Chega a ser cômico perceber como a minha vida "estranha e solitária" compõe muito bem a imagem social de quem "diz ser o próprio Michelangelo". Entretanto, preciso ser honesto e esclarecer este ponto de uma vez por todas. Eu optei por uma vida solitária há mais de duas décadas para ter a liberdade de ir direto em cima da mulher que eu quiser. Nunca, em nenhum ambiente social que frequentei, encontrei garotas que, digamos, se encaixassem em meus sonhos sexuais. Pior, sempre alguém vinha com conversa para me convencer a namorar uma baranga, só porque era amiga da amiga da prima de sei lá quem. Beleza, e principalmente tesão, não se discute, e logo percebi que, se quisesse viver a minha sexualidade plenamente, eu teria que resolver sozinho as operações táticas para pegar aquelas que realmente me atraem, sem sofrer patrulha de grupos sociais. Se eu não tivesse tomado essa decisão tão cedo, hoje eu já teria cometido suicídio, pois é bem complicado descobrir quais são as mulheres que combinam atração física com um mínimo de curiosidade sexual além do trivial. Já desisti de muitas por conta de um lado sexual tão "higiênico" que, depois, nem conseguia lembrar da transa! Acredito que esta singela confissão explica porque sou tão "estranho e esquisito". Mas, acredite, eu não sou só um "tarado" e pretendo um dia tentar entender o que é o tal do amor, mas sem grupos sociais para me convencer a comer socialmente o que não gosto.
A minha sexualidade "esquisita" também tem batido de frente com o senso comum através da arte "clássica" que faço. Ao divulgar o meu trabalho artístico dos anos 1980 (cujo único intuito era verificar o quanto eu seria "Michelangelo de novo") através do meu filme em DVD e por toda internet, uma infinidade de esteriótipos tem gerado muita incompreensão. As opiniões mais grotescas são aquelas que supõe que eu seja um cara conservador, obcecado por arte antiga, que estudou e treinou por anos e anos a arte de Michelangelo para, um dia, tirar onda ao se apresentar como uma reencarnação do mestre italiano. Muitos até apostam que sou homossexual por conta da plasticidade de meus nus masculinos.
Bem, ainda mantenho amizades ao alcance de um click que podem dizer o que eu fazia quando o desenho da arte "clássica" surgiu, mas não vamos incomodar os outros: eu estava surfando e fabricando pranchas de surf, desde a adolescência. E caso eu fosse mesmo um conservador que estivesse treinando arte renascentista para me apresentar como o próprio Michelangelo, é de se supor que eu estivesse tentando aparecer como tal desde os anos 1990 (quando toda a minha arte "clássica" já estava feita) e jamais fosse frequentar grupos de arte contemporânea, como acabou acontecendo.
A minha ânsia por enterrar a minha identidade Michelangelo era tamanha que, no início dos anos 2000, parti para performances baseadas justamente nas minhas andanças pela noite carioca em busca da "supergata cuja sexualidade daria sentido à própria beleza". Esta ideia foi o ponto de partida da minha famosa Performance da Barbie, na coletiva Arttrainee II (Castelinho do Flamengo, 2001), onde uma espetacular modelo de passarela contratada (sósia da boneca Barbie) desfilava e distribuía uma revista erótica que produzi com fotos da boneca Barbie (a de plástico) sendo "molestada" pelas mãos de um monte de gente. Gastei uma grana com tudo isso e estava amando trabalhar a minha sexualidade na arte. Depois do sucesso dessa performance, já tinha outras propostas que seriam protagonizadas por mim mesmo em imagens com outras "Barbies". O problema é que a minha sexualidade não é condizente com este tipo de "atuação" pública. Eu não gostei da ideia de me expor a tal ponto e isto entrou em choque com a postura necessária a um artista performático.
Eu abandonei o grupo de artes plásticas para escrever um romance de ficção científico-política, chamado "Alexia - O Nascimento de Vênus", que nada mais é do que um mundo de eternas Barbies sempre a desfilar em meio a uma trama inteiramente inspirada nas minhas vivências místicas dos anos 1980. Afinal, eu queria muito dar um destino comercial normal aos anos perdidos tentando achar a prova da minha identidade Michelangelo na escultura Ícaro. Perdi tempo e muito dinheiro nessa minha fase de escritor, mas confesso que estava adorando tudo o que estava fazendo com as minhas fantasias e lembranças de aventuras sexuais.
Enfim, por razões que estão explicadas no livro "Ícaro, Contemplação e Sonho", voltei para minha condição natural de ser o próprio Michelangelo. Voltei para minha espontânea arte "clássica", produto do meu não-pensar e respirar. Cansei de "errar" tentando ser outra coisa para ficar de acordo com o senso comum e ter uma imagem social aceitável por terceiros. Quero ser eu mesmo, praticando o meu surf de alma e vivendo meus delírios sexuais da forma que quiser, enquanto o amor não vier de brinde numa dessas.
Talvez eu seja um "tarado" por não fingir tanto quanto as pessoas normais. Talvez eu seja um "tarado" por esperar além do normal pelo tal do amor. Talvez, por tudo isto, eu nunca tenha traído nenhuma daquelas com quem me envolvi. Talvez eu apenas não goste da vida social normal.

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